Ajudando as pessoas a começarem sua gestão financeira
Como utilizamos UX Design para nos ajudar a compreender as principais dores das pessoas em relação a gestão de suas finanças.
Sobre
Este projeto é um trabalho de conclusão do curso de Especialização em Design de Interação UX UI da PUC Campinas. Os integrantes da equipe são: Alison Ramos, Augusto Vilela, Brenda Dezio, Daniel Leite, Giulia Urizzi e Guilherme Greghi
É muito comum chegarmos ao fim do mês faltando dinheiro sem sequer sabermos o porquê. Gastos do dia a dia, imprevistos, descontrole e impulsos: tudo isso impacta diretamente nossa saúde financeira. Por isso, é importante termos controle dos gastos e investimentos, a fim de podermos fazer planos e não passarmos aperto com dinheiro. Porém, para muitos, fazer esse controle pode ser muito confuso, pois não sabem:
- Como fazer;
- Qual ferramenta usar;
- Por onde começar;
Ou até mesmo acham que isso não é tão importante e que, anotando alguns gastos em um pedaço de papel, já é suficiente para ter noção da sua vida financeira.
Cenário Atual
Para entender melhor o cenário atual do brasileiro em relação a finanças, fizemos uma Desk Research.
Percebemos que grande parte das pessoas não fazem gestão financeira e que muitas recorrem ao uso do cartão de crédito, porém no final do mês acabam se endividando ainda mais parcelando a fatura.
A partir das pesquisas, notamos alguns pontos importantes:
- Mulheres estão pensando mais no planejamento e organização financeira, muitas vezes cuidando do orçamento familiar.
- 6 entre cada 10 brasileiros (58%) admitem que nunca, ou quase nunca, dedicam tempo para controlar a vida financeira, apesar de 56% afirmarem que se sentem melhor ao planejar despesas para os próximos meses;
- A pandemia de COVID-19 evidenciou a falta de planejamento financeiro nas famílias e empresas brasileiras, o que gera muita vulnerabilidade econômica.
Pesquisa Qualitativa
Com base na Desk Research, nós selecionamos 14 pessoas de 20 a 34 anos com perfis financeiros diferentes. Nosso objetivo era descobrir:
Qual o nível de conhecimento em finanças que elas têm?
Como essas pessoas fazem a sua gestão mensal de gastos?
Com as respostas obtidas a partir das pesquisas, conseguimos identificar que:
- 9 de 14 pessoas não fazem gestão dos seus gastos ou fazem muito pouco;
- 10 de 14 pessoas disseram ter conhecimento básico em finanças;
- 2 de 14 pessoas conhecem e usam aplicativos para gerenciamento (o restante que faz um pouco da sua gestão de gastos usam planilhas de excel ou papel e caneta mesmo).
O Problema
Diante desse cenário, percebemos um comportamento padrão na maioria dessas pessoas, logo, decidimos criar um mapa de empatia para entender melhor este público.
Então como podemos ajudar essas pessoas?
Benchmarking
Procuramos ver a concorrência para termos uma visão mais completa do mercado de aplicativos para gestão financeira, realizando um benchmark dos principais players desse ramo.
O Minhas Economias segue a maioria dos aplicativos desse ramo, sempre solicitando a criação de conta para apenas depois usá-lo e ver se é o que você esperava.
O Minhas Finanças também adere a uma característica muito comum: Versão Premium. E deixa features muito importantes de fora da versão gratuita, o que pode ser um fator decisivo para a pessoa deixar de usar o aplicativo.
Trouxemos o EasyBudget para exemplificar um layout bem comum nesses aplicativos, simples e objetivo, mas sem nenhuma identidade única e memorável.
O Guia Bolso é um dos maiores players nesse ramo no Brasil, é uma plataforma bem completa com um visual muito atrativo. Porém, também solicita conexão com o banco para poder utilizar o aplicativo, não trazem outra forma das pessoas utilizarem.
A Olivia é referência em usar inteligência artificial para ajudar os seus usuários, porém percebemos que muitas dicas são bem generalizadas e fora de hora. Achamos que é possível termos dicas mais certeiras e únicas para cada pessoa.
Testamos também outros aplicativos populares para termos uma visual geral da proposta de cada um:
Depois disso, ficou claro para nós que a maioria dos aplicativos:
- Não focam em metas a longo prazo;
- Não ensinam sobre finanças;
A Solução
A partir disso surgiu a Nami, sua guia financeira.
O objetivo dela é ser uma guia pessoal e ajudar as pessoas a entenderem o que é necessário para não se perder ou se afogar na imensidão dos boletos, de forma simples e fácil.
Com a Nami, é possível configurar suas próprias metas, principalmente as de longo prazo, como uma viagem ou algo de muito valor que você precisa de dinheiro para realizar.
Tudo isso, com dicas exclusivas baseadas no comportamento de cada pessoa.
Além disso, ela irá fornecer testes diários sobre finanças, como termos famosos, siglas, etc.
Teste De Usabilidade
Para sabermos como seria a utilização por usuários reais, aplicamos um teste de usabilidade com 7 pessoas, dentre elas alguns participantes da pesquisa. Pedimos para navegarem por todo o aplicativo, desde o onboarding e conexão de conta, até todas as suas abas internas. Fizemos isso para descobrir:
- Como se sentiram durante o onboarding?
- Conectariam suas contas bancárias sem problemas?
- Acharam o layout agradável?
- Foi fácil de usar?
- Fariam o teste diário?
- Usariam o aplicativo no dia a dia?
Depois da aplicação do teste, descobrimos que:
Após a análise dos dados do teste de usabilidade, fizemos um blueprint com a jornada do usuário no onboarding da Nami:
A partir disso, pudemos notar uma grande queda na linha de satisfação na hora de conectar os dados do internet banking, percebemos como as pessoas ficam receosas na hora de compartilhar dados.
A partir da matriz, notamos que nosso maior problema com o aplicativo é a falta de segurança que o usuário sente com a Nami.
Workshop Com Especialistas
Partindo dessa dor principal dos nossos usuários, realizamos um workshop com diversos especialistas na área de segurança, a fim de esclarecer nossas dúvidas e elaborar um aplicativo muito mais seguro.
Depois de contextualizar nossos convidados sobre a Nami e o nosso problema principal, seguimos para as dinâmicas:
- #01: Brainstorm: Trouxemos dois grandes aplicativos, Guia Bolso e Olivia, para obtermos as opiniões de nossos especialistas: o que está bom? o que está ruim? O que pode melhorar?
- #02: How might we?: Seguindo para a segunda dinâmica, pegamos todos os comentários e colocamos em formas de perguntas (Como podemos…?) Para procurarmos uma solução viável que pudéssemos usar em Nami.
- #03: Crazy 8’s: Usamos essa ferramenta de Design Sprint para soltar a criatividade de todos e gerar ideias para nos ajudar a passar mais credibilidade com a Nami e a sensação de segurança.
Depois de horas de conversa e muito aprendizado, saímos com algumas soluções para o onboarding:
Tela perguntando o nível de conhecimento em finanças: Foi notado durante o brainstorm que os aplicativos usam muito palavras difíceis e termos de segurança que uma pessoa comum não conhece. Logo, perguntando o nível de conhecimento antes de prosseguir, construímos uma comunicação para que todos possam entender bem o que está sendo proposto. Com isso, tentar fazer com que o usuário confie mais na Nami.
Colocar no layout de ‘stories’: O usuário já é familiarizado com este formato, logo pode deixá-lo mais à vontade. Além de mostrar quantos passos faltam para a finalização.
Tela de conexão com o banco: Colocar ícones que o usuário já conheça, como o cadeado, junto com explicações: para que serve a conexão? Como funciona? É seguro?
A Nami
Com todas essas informações em mãos, voltamos para o Figma e aplicamos tudo o que aprendemos, tanto com o teste de usabilidade quanto o workshop com os especialistas:
Na primeira versão da Nami, tínhamos o Teste Diário sobre finanças, o que não foi bem aceito pelos usuários, eles comentaram que provavelmente não fariam todos os dias, pois não era tão interessante.
Pensando nisso, substituímos por pílulas de conteúdo — que podem ser sugestões de vídeos, podcasts, artigos — sempre um material diferente, para trazer uma novidade todos os dias e talvez assim engajar mais os usuários a consumirem o conteúdo.
Fizemos um teste de legibilidade com as cores que estávamos usando e as novas combinações passam no teste, além de ter um contraste muito maior:
Guia de Estilos
Conclusão e Aprendizados
Estamos muito felizes com o resultado, foi realmente um desafio para nós. Apesar das condições que estamos vivendo atualmente — COVID-19, quarentena e aulas a distância — conseguimos entregar um projeto que estamos orgulhosos e que com certeza tem grande valor para o nosso curso.
Durante o processo pudemos perceber erros que, hoje em dia, são tão evidentes, mas que na época não conseguimos visualizar. Felizmente, tivemos a orientação de nossos docentes para nos ajudar a encontrar o caminho certo e estamos muito gratos por isso.
Percebemos a importância de um teste de usabilidade e como ele é subestimado por muitas empresas. Existem insights de grande valor que só são obtidos através da experiência dos usuários.
Para nós a troca de ideias que tivemos em grupo e durante as nossas aulas da pós-graduação acrescentou bastante, tanto no projeto como no crescimento pessoal de cada um de nós. Nos sentimos mais capazes e inspirados para seguirmos nossa carreira como designers.
Somos muito gratos a todos que nos ajudaram com este projeto, os participantes de nossa pesquisa e teste de usabilidade, os docentes e colegas de classe, aos especialistas que tiraram a tarde de um sábado para participar do nosso workshop. Todos eles foram uma peça chave para a Nami sair do papel e finalizarmos o nosso curso.